A SAGA DE AGOTIME, MARIA MINEIRA NAÊ

Em 2001 a Beija-Flor fez aquele que é apontado por muitos o melhor desfile da década ou até da Marques de Sapucaí. Depois de conseguir dois vice-campeonatos seguidos, a comunidade precisava de um título e atendendo pedidos a comissão de carnaval escolheu um tema afro, o mais popular e querido por todos na escola. Era a melhor oportunidade de vitória, depois de dois belos carnavais, perdidos por meio ponto.
Agotime foi mais um enredo baseado nos relatos da Pajé Zeneida Lima, que ajudou a escola em 98, com o mundo Místico dos Caruanas. Zeneide, através das histórias de sua avó, tomou conhecimento da saga de sua ancestral, a Rainha Agotime, africana legítima que foi atraída e feita escrava no Brasil, onde criou no Maranhão uma casa para agradar aos seus voduns, conhecida como a "Casa das Minas".
Com um samba sensacional dos compositores Déo, Caruso, Cleber e Osmar, a Beija-Flor entrou no período pré-carnaval como uma das favoritas ao tíulo. A ordem do desfile foi ingrata na escolha do dia, mas não do horário. A escola seria a útima de domingo. O desfile começou com o sol iluminando a Sapucaí, como em outros grandes carnavais da Beija-Flor.
Com um iníio de desfile impactante, a escola já contagiava as arquibancadas como nenhuma outra. A Comissão de frente mostrava Agotime e suas panteras. Logo atrás, vinha uma das alas mais incríveis a passar pela Apoteose, as pretas velhas. Varias senhoras da comunidade desfilaram corcundas, com cachimbos na boca e jogando oferendas por toda avenida. Foi algo marcante.
O que se viu por todo o desfile foi um show de bom gosto, valorizando a África, o candomblé, o Brasil e os negros. O segundo carro era um espetáculo a parte, ao trazer centenas de velas vermelhas de 7º dia e ebos. Era o carro da feitiçaria. Agotime foi feita de escrava após ser acusada de praticar magia negra pelo seu enteado.
O resto do desfile retratou a saga de Agotime, até a sua chegada no Maranhão e a criação da Casa das Minas. Com carros alegóricos lindíssimos e uma ala de passo marcado de tirar o fôlego, a Beija Flor saiu aclamada por toda a torcida. Era impossível aparecer outro desfile como esse. Todos sabiam que aquela era a escola campeã de 2001. A Beija-Flor foi perfeita em todos os sentidos. A bateria trouxe alguns instrumentos africanos, o samba era o melhor, Neguinho foi magnifico e a comunidade nunca cantou tanto.
Infelizmente na quarta feira de cinzas os jurados resolveram premiar a Imperatriz Leopoldinense com o seu desfile sobre a cachaça. A escola de Ramos só tirou notas 10, ou seja, para vencer a Beija-Flor, somente a perfeição. O que não foi o caso da Imperatriz, mas como o seu patrono Luisinho Drummond era o presidente da Liesa, a escola venceu este carnaval como os outros dois anteriores, todos com a Beija-Flor como vice campeã.
A derrota me machuca até hoje. Nunca vi um desfile como esse. Foi algo mágico, inesquecível. A redenção de Agotime veio em 2007, quando a escola voltou a falar da África, dessa vez focando os Reis Africanos que vieram escravos para o Brasil. A rainha Agotime era o tema do 3º carro.

5 comentários:

Marina Laterza de Paiva disse...

Eh complicado quando esse tipo de situação ocorre. Falcatruas, como termo mais singelo, comanda as escolas de samba. Me lembro o quão chateada ficava sempre que a Beija chegava em segundo e perdendo consecutivamente para a Imperatriz. Mas felizmente isso mudou e agora parece que as aapurações estão mais amenas.
Isso ocorrerá sempre, mas nao dimuirá jamais o nosso amor pela Flor.

Um beijo

Unknown disse...

1°: Dizer que a Imperatriz não foi perfeita é não ser condizente com a verdade; Todos os comentaristas e especialistas afirmaram que ela tinha sido a mais perfeita.
2°: Dizer que a Beija-Flor foi perfeita é não ser condizente com a verdade; Ela cometeu pequenos erros em seu desfile, entre eles a queda de uma escultura de um carro, que foi devidamente descontado na única nota 9,5 da escola.
Ou seja: a Beija-Flor fez o desfile mais emocionante da década, mas não se habilitou ao título justamente porque no carnaval o que se pesa são "todos" os quesitos avaliados.

Júlio disse...

Não sou torcedor da Beija-flor muito menos da Imperatriz. Mas esse campeonato de 2001 foi ridiculo. A Beija-flor e a campeã moral desse ano.
Não só esse ano,mas a GRESIL,levou o de 95 e 99 que seriam da Portela e Mocidade. Mas,,,ironias do carnaval,é so vermos como anda a vida da escola de Ramos.

Unknown disse...

Rapaz! Também achei uma injustiça a Beija-Flor não ter ganho com esse lindo enrredo. Sou do Maranhão e sei o quanto a Casa das Minas é um ícone da tradição africana nesse estado. Realmente a Beija-Flor fez uma bela homenagem a Nã Agotime, à cultura afro-brasileira e à Casa das Minas.

Helton disse...

A Beija Flor realmente trouxe um belíssimo enredo,porém a escola visivelvemente teve varios problemas,a exemplo o carro em que vinha a Linda Conde cujo o explendor de sua fantasia se desprendeu da alegoria e precisou de apoio,além disso um dos carros bateu em um poste danificando uma de suas laterais sem contar com uma ala inteira cortada por não preencher o número de componentes requeridos,pois bem, a Imperatriz nesse ano também trouxe um excelente tema além de ter demonstrado perfeição tecnica que á fez garantir seu tri mais que merecido.Isso me faz focar que belos enredos emocionam platéias porém não convencem jurados que buscam e procuram nos mínimos detalhes a perfeição e querendo ou não a escola de Nilópolis deixou muito a desejar apesar do bom samba e da garra de seus componentes.Refletindo em tantos anos de Sapucaí constatei que em todos estes anos só houve uma escola a conquistar público e jurado simultaneamente,foi o caso da G.R.E.S.Estácio de Sá em 1992,ano que sem dúvida ficou na memória dos amantes do samba,e que obtivera um título incontestável.

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